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    É por meio do brinquedo que a criança vai conhecer o mundo, trabalhar seus sentimentos de medo, alegria, tristeza, amor, ódio e descobrir, através de suas brincadeiras, a melhor forma de dominá-los.
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O BRINCAR SOB A PERPECTIVA DA TERAPIA OCUPACIONAL: POSSIBILIDADES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

   Carolina Raquel Rabitto

                                                                                                          Terapeuta Ocupacional

 Quando a criança não brinca, nós temos um problema,

 Assim como quando ela se recusa a comer ou dormir.

(Hartley e Goldenson, 1963)

Este texto objetiva refletir sobre a presença e significado do brincar na prática terapêutica ocupacional no contexto da educação especial. Para tanto apresentar-se-á a relação entre a Terapia Ocupacional e o brincar e em seguida reflexões a cerca do brincar na intervenção terapêutica ocupacional, considerando-se o brincar enquanto recurso terapêutico e papel ocupacional. Por fim apresenta-se aspectos concernentes a referida prática no contexto da educação especial.

A Terapia Ocupacional e o Brincar

 A Terapia Ocupacional, enquanto “profissão que habilita pessoas a se engajarem nos papéis, tarefas e atividades que têm um significado para as mesmas no seu dia a dia e que definem suas vidas” (Trombly, 1992) ou que facilita o engajamento das pessoas em suas ocupações  dando suporte à participação dos indivíduos no contexto em que vivem, entende o brincar enquanto atividade predominante na infância, apresentando-o desde o surgimento da profissão, como tema de interesse e foco de intervenção de muitos destes profissionais.

Mais recentemente, nesta última década, tem-se o brincar reconhecido como área de desempenho ocupacional e desta forma como um dos focos de intervençãoem Terapia Ocupacional. Aponta-se uma evolução no sentido de compreeender o brincar enquanto papel ocupacional, o que significa dizer que este passa a ser considerado em seu significado interno e social para a criança, aqui pensado enquanto “brincante”.

Consideramos portanto, que no brincar “a criança envolve-se com a mesma atitude e energia que nos engajamos em nosso trabalho. Brincar é uma incumbência séria que não deve ser confundido com diversão ou uso ocioso do tempo, não é leviandade, é uma atividade intencional” (Alessandrini, 1949).

É neste sentido que o brincar marca a prática terapêutica ocupacional, podendo estar presente como recurso terapêutico ou papel ocupacional do sujeito de atenção, assim, atividade meio (para aquisição de habilidades requeridas) ou atividade fim (sendo foco o desempenho independente e funcional no brincar).

 Brincar: Recurso Terapêutico Ocupacional

 Na teoria que baseia a prática da Terapia Ocupacional há muitos apontamentos acerca do uso do brincar como recurso terapêutico. Entre estes, Zerbinato, Makita e Zerloti (2003), referem que “é por meio do brincar e das brincadeiras com o próprio corpo, com o corpo do outro e com os objetos, que a criança vai desenvolvendo todo seu repertório motor, sensorial, cognitivo, social e emocional. Brincando descobre que pode agir no mundo e promover mudanças (montar e desmontar, misturar, encaixar, construir, criar, imaginar) (…) por meio da experimentação de desafios, investigação e resolução de problemas e exercício de suas funções.”

A partir deste conhecimento, o terapeuta ocupacional irá considerar a história de vida da criança, seus fatores genéticos e epigenéticos (resposta aos estímulos ambientais), seu comportamento motor, cognitivo e psicossocial em atividade, para encaminhar ou definir determinadas atividades terapêuticas ou uma abordagem, de acordo com as necessidades específicas de cada criança (Motta e Takatori, 2001).

Analisando as capacidades pessoais (habilidades, limitações e características) e as demandas do ambiente (social e físico) e da atividade requerida, o terapeuta ocupacional é capaz de definir qual é a atividade lúdica mais indicada, possível de ser concretizada e potencialmente mais benéfica a cada criança, dirigindo a atividade de forma a estimular ou aprimorar determinadas habilidades motoras, cognitivas ou psicossociais.

No entanto, é importante salientar que “tendo claro os objetivos do tratamento, a escolha do brinquedo ou da bincadeira pode ser da criança. O terapeuta não precisa ter medo de brincar com ela, pensando que isto banalizaria o tratamento, pois brincar é o maior e melhor instrumento” (Zerbinato, Makita e Zerloti, 2003).

Este aspecto nos conduz a reflexão do próximo tópico, a intervenção e o olhar do terapeuta ocupacional no que se refere ao brincar enquanto papel ocupacional.      

 Brincar: Papel Ocupacional                                                            

Um papel ocupacional é entendido como a inter-relação entre as necessidades do ambiente social e as contribuições do indivíduo. Quando definidos como as expectativas comportamentais que acompanham a posição ocupada por uma pessoa ou status no sistema social, os papéis tornam-se os meios principais através dos quais uma pessoa expressa sua participação social (Barret e Kielhofner, 2002).  Assim o brincar enquanto papel ocupacional diz do brincar que é significativo e dirigido pelo desejo do sujeito no contexto de seu cotidiano. Neste caso entende-se que a criança brinca por que esta é a sua forma de agir sobre o mundo e de construir-se.

            Recentemente Bundy (2002) propõe para reflexão e aprimoramento da prática dos terapeutas ocupacionais, a definição dinâmica do brincar, aonde a autora propõe que brincar de fato é “uma relação dinâmica, quando há uma transação entre a criança e o ambiente, onde a ação deve ser intrinsecamente motivada, internamente controlada e desvinculada da realidade objetiva.” Estes critérios são utilizados na proposta do “Modelo de Entretenimento” de maneira articulada e inter-relacionada, como apontado na figura a seguir. 

Interna ___________ Externa
         Percepção de controle                                         →                              BRINCAR

Intrínseca _________ Extrínsica                                                         NÃO BRINCAR
              Fonte de motivação

Livre _____________ Orientada
         Suspensão da realidade

Neste modelo considera-se que quando a ação da criança é internamente controlada, intrinsecamente motivada e livre da realidade (com possibilidade de faz de conta), a “balança” conduz a seta para cima, o que caracterizaria, segundo a autora, o brincar de fato. Ao contrário, quanto mais orientada e motivada por outro a atividade é, menos se aproxima do brincar.

A partir desta perspectiva o terapeuta ocupacional será mediador do processo do brincar, como agente facilitador, mas não interventor direto, sendo sua ação sobre o meio social e físico estratégia para que o ambiente seja catalisador da ação da criança. Salienta-se aqui que o estímulo a iniciativa e interesse pela atividade lúdica, bem como a “autorização” subjetiva para que a criança explore e expresse-se em seu fazer é fundamental. (Rezende, 2009)

            Neste ponto o brincar será facilitador da integração, sobrevivência e compreensão da cultura para flexibilidade do pensamento, adaptação, aprendizado, resolução de problemas e de desenvolvimento social, cognitivo e emocional e de habilidades físicas. (Satagnitti, 2000)

 O contexto da Educação Especial : Possibilitando e Estimulando o Brincar

 Graduando o brincar…

  A graduação de uma atividade  envolve aumento ou diminuição seqüencial das demandas da atividade com o passar do tempo para estimular a melhora de função do cliente ou para responder à diminuição da capacidade funcional (Crepeau, 2002).

            Este é um recurso fundamental utilizado por terapeutas ocupacionais na estimulação de habilidades cognitivas, motoras e psicossociais durante o brincar, junto a crianças que apresentam deficiência ou incapacidade de qualquer ordem. Através destes os déficits de desempenho são minimizados e componentes necessários ao desempenho desenvolvidos, a partir de demandas crescentes nas atividades lúdicas. Da mesma forma o desempenho mais funcional do papel ocupacional também é estimulado a partir da proposição de atividades cada vez mais exigentes de diversos pontos de vista, sendo incorporados novos desafios a medida que a criança avance no desempenho do papel de “brincante”.

 Adaptando o brincar…

            A adaptação da atividade é o processo de modificar as tarefas e as atividades para promover função independente (Crepeau, 2002).

            No caso de déficits físicos (motores e/ou sensoriais) ou cognitivos no desempenho do brincar, o terapeuta ocupacional lança mão dos recursos de adaptação das atividades lúdicas, propondo-se novas formas de fazer ou modificações em uma ou mais etapas da atividade a ser realizada. Estes podem envolver simplificação cognitiva, redução de resistência física, redução de barreiras (físicas ou sociais) ou uso de equipamentos de adaptação de objetos lúdicos e brinquedos e modificações estruturais no espaço de brincar. Objetiva-se assim que a criança portadora de deficiência ou incapacidade, no contexto da educação especial, seja capaz de participar e interagir socialmente, possa agir sobre o mundo e experiencie os estímulos advindos da realização de determinadas atividades lúdicas, que não possam ser vivenciadas, se não de forma adaptada.

Concluindo

 O brincar, seja como recurso terapêutico ou papel ocupacional, é instrumento e objeto da prática terapêutica ocupacional junto a crianças em qualquer contexto de atenção, assim também na educação especial. Neste contexto específico, observa-se que a graduação e adaptação das atividades são aspectos essenciais da prática terapêutica ocupacional porque através destas, o terapeuta ocupacional será capaz de produzir alterações terapêuticas ou apoiar as funções em declínio, possibilitando vivencias lúdicas essenciais e desenvolvimento de habilidades necessárias ao desempenho ocupacional competente e conseqüente melhoria da participação social destas crianças.

 

2 Respostas

  1. Carol!
    Parabéns pelo artigo!
    Tê-la na equipe Lekotek é uma honra.
    Parabéns, você é um profissional maravilhosa a qual eu admiro muito.
    Thaisa Garais

  2. Thaisa
    Obrigada pelo carinho e por acreditar no meu trabalho.
    É muito bom fazer parte do lekotek!!!
    abraços
    Carol

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